sexta-feira, 29 de julho de 2022

 A música certa


No meu deserto ainda há pássaros.

Pesam-lhes as penas, mas com a música certa dançam como se fosse ontem.

E dançam com o coração, porque lhes pesam as penas.

Já não voam, mas por dentro são livres e dançam como dançavam entre o verde das palmeiras do Oásis da última primavera.

Dançam, mas por fora estão muito quietos.

Porque com a música certa até se pode dançar por dentro.



Obrigada @zedosspaces e @marianabsolute

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A última dança



Era sempre o último. Desde que a Teresa começou a frequentar  aquele bar, ele era sempre o último com quem ela dançava.  Quando ela chegava, acompanhada das suas amigas, ele já lá estava. Sempre sozinho. Uma cerveja na mão, abanando a cabeça ao som da musica. 


Teresa não se recorda da primeira vez que reparou nele. Mas lembras-se daquela quinta feira de Abril. Estava de costas, algo a fez virar a cabeça e os olhares de ambos cruzaram-se. E Teresa sentiu uma vontade irresistível de mergulhar naquela piscina azul que eram os olhos dele. Foi nesse momento que começou o calor, um calor insuportável que lhe subia à face e que descia à boca do corpo, um calor…. As amigas, quando a viram assim acorreram surpreendidas. Em 20 anos de amizade, nunca tinham visto a Teresa alterada, quanto mais afogueada. Está tudo bem? SIm, está tudo bem. Mas não estava nada bem. Passou o resto da noite a recuperar o fôlego e a tentar esquecer aquele olhar que a trespassou.


Quando o DJ anunciou a última música, o homem dos olhos de agua atravessou a sala e convidou-a para dançar. Nos meses que se seguiram dançaram sempre aquela última dança.  Nunca falaram mas os seus corpos, ainda que nunca se tivessem encontrado, moviam-se como se nunca se tivessem separado. Eram um. 

                                                  

E o calor… o calor nunca mais a abandonou. Passou a usar manga curta no Inverno mas nem isso era suficiente para apagar as chamas que lhe envolviam o corpo.  So a nudez lhe trazia  algum alivio. E foi assim que, a pouco e pouco foi largando as peças de roupa como quem perde uma pele velha  de que já não precisa. Em casa andava nua e quando saía, no inverno vestia um casaco de lã, e no verão um vestido de algodão. Junto à pele. Porque o calor…ai o calor…

 

Ja há umas semanas que não saia e naquele dia decidiu ir sozinha. Quando chegou ao bar usava só um vestido preto, de seda, um pouco abaixo do joelho. Mal entrou sentiu os olhos dele cravados em si. Ele sabia. E na última música, la estava ele. Mas desta vez não a abraçou. Ficou a olha-la e despiu-a com o olhar. Teresa viu o seu vestido a descer o seu braço e a expor o seu magnífico peito branco, pesado e coroado por um mamilo rosado.  Ele continuou a olhá-la e do seu cabelo soltaram-se borboletas que Teresa sentiu como uma brisa que lhe levou o vestido. Ficou nua, indefesa em frente a ele. Ele aproximou-se e sussurrou-lhe ao ouvido Quero que te recordes do meu cheiro, é por isso sou sempre o último.

E foi uma Teresa nua que mergulhou naquela piscina cor do céu, na esperança de apagar aquele fogo que a consumia. 




 


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O enxovalho



Depois de várias semanas de justificações, depois de negociações acerca das funções e dos destinatários, depois de vários avanços, recuos, piões, curvas e outras manobras de diversão, finalmente hoje o MEC pode começar o seu plano de “dignificar a carreira docente” e avaliar 13 mil docentes usando a PACC, ou seja, iríamos ter um vislumbre dos critérios de qualidade que este ministro considera mínimos para o exercício da docência.
Atendendo ao historial do ministro que tanto escreveu e falou acerca de exigência e rigor ao longo da sua carreira académica, esperava-se uma prova que fosse espelho desse pensamento, lançando para fora do “sistema” quem não estivesse à altura dos desafios de “qualidade” que Crato advoga para o “seu” sistema educativo.

Depois de tanta polémica, como já começa a ser hábito deste MEC, mais uma vez a montanha pariu um rato.

A PACC de hoje foi insultuosa para os professores. Ter como critério mínimo de qualidade questões acessíveis a miúdos de 9 anos (acreditem, eu testei na minha filha)  é, no mínimo, um insulto.

Os objectivos do MEC são incompreensíveis. Compra uma guerra em defesa da qualidade para depois sair com esta vergonha? Porquê? Para quê? A não ser que, contrariamente ao que propalou, em vez de “dignificar”, Crato quisesse “enxovalhar” os professores e nesse caso, parabéns, sr. ministro, meta totalmente conseguida! Não é a primeira vez e não deverá ser a última. Cá estaremos para o contrariar.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Enchi!


Quem me conhece sabe que sou uma pessoa ponderada. Tenho também em mim a qualidade da paciência e do bom senso. Durante dois anos assisti com maior ou menor resignação a todas as políticas, tentativas de política, fait-divers e mesmo palhaçadas desta equipa que tomou conta deste meu país. Durante muito tempo achei imprudente pedir a demissão destas pessoas. Umas vezes era porque não havia alternativa, outras era porque o momento não era adequado, outras ainda era porque sim, outras foi porque não. Pois...enchi! Enchi de ver o meu país sem esperança e a morrer aos pedacinhos. Não posso mais! Por um milhão de razões, está na hora do governo ir embora. Preciso de votar!!! E nao me importo que seja no Tiririca porque isto, pior do que já está, não fica!!!

Por isso, a partir de hoje não me vou calar. Sobre quem nos governa? Demissão! Já!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Escolhas



Pára! Olha para ti. Porque corres? Para onde vais? Pára! Pára e pensa.

És feliz?

Então muda. MU-DA-TE! Não deixes a vida escorrer por ti. Se não “és”, não é porque os outros te impediram, mas sim porque ainda não decidiste “ser". Pára, pensa, decide e age! Age!  Abraça a vida e caminha por ela rumo a ti. SÊ FELIZ!!! 

Porque um dia acordas e já nao estás. E quando vais à tua procura já te diluíste na enxurrada que te levou a vida.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

recados




Continuo a gostar dos recados que me deixas espalhados por aí. Podia recolhe-los todos e  fazer um livro. Ou guardá-los numa caixa embrulhados numa fita de cetim como se guardam as cartas de amor. Mas não. Nunca lhes mexo.  Gosto de os ter espalhados pela casa e de os procurar quando me apetece cheirar-te. Gosto de os reecontrar quando ajeito uma almofada do sofá ou dentro do bolso do casaco que já não vestia desde a ultima estaçao. Sabem-me sempre a surpresa. E tantos anos depois, cada um dos quadradinhos de papel que foste deixando para tras, continuam a ser pedaços de ti, peças de um puzzle que nunca desisti de completar. 
Nunca deixes de escrever os meus recados. Mesmo sabendo que nunca te leio. Mesmo que não sejam para mim.