Era sempre o último. Desde que a Teresa começou a frequentar aquele bar, ele era sempre o último com quem ela dançava. Quando ela chegava, acompanhada das suas amigas, ele já lá estava. Sempre sozinho. Uma cerveja na mão, abanando a cabeça ao som da musica.
Teresa não se recorda da primeira vez que reparou nele. Mas lembras-se daquela quinta feira de Abril. Estava de costas, algo a fez virar a cabeça e os olhares de ambos cruzaram-se. E Teresa sentiu uma vontade irresistível de mergulhar naquela piscina azul que eram os olhos dele. Foi nesse momento que começou o calor, um calor insuportável que lhe subia à face e que descia à boca do corpo, um calor…. As amigas, quando a viram assim acorreram surpreendidas. Em 20 anos de amizade, nunca tinham visto a Teresa alterada, quanto mais afogueada. Está tudo bem? SIm, está tudo bem. Mas não estava nada bem. Passou o resto da noite a recuperar o fôlego e a tentar esquecer aquele olhar que a trespassou.
Quando o DJ anunciou a última música, o homem dos olhos de agua atravessou a sala e convidou-a para dançar. Nos meses que se seguiram dançaram sempre aquela última dança. Nunca falaram mas os seus corpos, ainda que nunca se tivessem encontrado, moviam-se como se nunca se tivessem separado. Eram um.
E o calor… o calor nunca mais a abandonou. Passou a usar manga curta no Inverno mas nem isso era suficiente para apagar as chamas que lhe envolviam o corpo. So a nudez lhe trazia algum alivio. E foi assim que, a pouco e pouco foi largando as peças de roupa como quem perde uma pele velha de que já não precisa. Em casa andava nua e quando saía, no inverno vestia um casaco de lã, e no verão um vestido de algodão. Junto à pele. Porque o calor…ai o calor…
Ja há umas semanas que não saia e naquele dia decidiu ir sozinha. Quando chegou ao bar usava só um vestido preto, de seda, um pouco abaixo do joelho. Mal entrou sentiu os olhos dele cravados em si. Ele sabia. E na última música, la estava ele. Mas desta vez não a abraçou. Ficou a olha-la e despiu-a com o olhar. Teresa viu o seu vestido a descer o seu braço e a expor o seu magnífico peito branco, pesado e coroado por um mamilo rosado. Ele continuou a olhá-la e do seu cabelo soltaram-se borboletas que Teresa sentiu como uma brisa que lhe levou o vestido. Ficou nua, indefesa em frente a ele. Ele aproximou-se e sussurrou-lhe ao ouvido Quero que te recordes do meu cheiro, é por isso sou sempre o último.
E foi uma Teresa nua que mergulhou naquela piscina cor do céu, na esperança de apagar aquele fogo que a consumia.