Incomoda-me a fraqueza de não se enfrentar. Disse o Pessoa que "o poeta é um fingidor". Pois eu, nunca escreverei poesia. Sei há muito tempo, demasiado tempo talvez, que em mim a verdade é como o azeite e vem sempre ao cimo. Sei há muito tempo que não sei fingir gestos, olhares, palavras. E há muito tempo que deixei de me tingir de mentira, de fazer slalom com a minha consciência quando ela mete prego a fundo em busca da minha verdade. Assim, há muito tempo que deixei de fugir de mim e aprendi a aceitar-me com todas as dores que traz a crueza da imperfeição não disfarçada. Sou assim. Tal e qual. Sou eu. Mas tenho plena noção de que é sempre possível melhorar. E todos os dias luto para a minha verdade ser mais doce, mais tolerante, as vezes menos verdadeira. Há batalhas que vou ganhando e outras em que lutarei toda a vida incapaz de desistir de me tornar numa das "boas raparigas"mas aceitando, sem me cobrar, o privilégio de "ir a todo o lado".
Se as desvantagens desta forma de ser que me calhou na rifa da genética e na roleta da educação são óbvias, há algumas vantagens, para os outros, principalmente. Comigo não se criam expectativas. Em mim, o que parece ser...é! O meu interlocutor facilmente escolhe "take it or leave it" e sabe que nao leva gato por lebre. Para o melhor e para o pior.
Há muito tempo que decidi que não andava aqui a enganar ninguém, muito menos a mim própria. É isso que me faz ser feliz porque assim tenho a certeza que nas minhas lutas não há danos colaterais e muito menos prisioneiros.