sábado, 20 de outubro de 2012

Second life

Hoje vi-te, vida minha. Repousavas calmamente numa bandeja de metal carregada por umas figuras de uniforme. Quis abraçar-te, dizer-te da falta que me fazes e contar-te todos os projectos que tenho para nós, mas calei-me não vá o sobressalto  causar-nos desencontros.  Shiuuu... De  mim nem um ruído, que nem tenho coragem para te sonhar.  Vai tu fazendo uns planos, vai tu organizando as coisas que estou quase a chegar.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Camaleão





Ouvi-te entrar. Voltavas de viagem e recebi-te com um beijo e um abraço. Tive saudades tuas, disse-te e pareceu-me que sorrias. Já cá estou, respondeste. Deixei-te na entrada a sacudir a poeira da viagem, e fui-me sentando junto à janela a desfilar o exercicio da rotina. Quero ver-te, ouvir-te contar as histórias do percurso, mas a poeira demora-te os passos e preenche-te os gestos. Os dias passam e quando finalmente levanto os olhos estás vestido de amarelo e tens um pó fino a cobrir-te a alma. Voltei, ouço dizer. Observo-te. Quem és tu? Avanças com passos firmes em direcção à minha janela passeando pela trela um enorme camaleão.  Quem és tu? Não te encontro na figura empoeirada que desfila a rotina ao meu lado e apercebo-me que continuo com saudades tuas. Queria tanto que tivesses regressado. Foi uma surpresa ver que agora só usas amarelo.

sábado, 13 de outubro de 2012

Poema

DURANTE O SONO
Durante o sono retiraram-me uma costela
Ficou-me no peito um vazio que não consigo preencher
Custa-me a respirar
Eu quero de volta a minha costela
quero de volta todas as costelas
Quero de volta o paraíso
quero de volta o silêncio rumorejante
quero de volta as poluções nocturnas
e diurnas
Quero uma mulher
feita de chuva
e vento
e fogo
e neve
e luz
e breu
e não de argila
como eu
Poema de Jorge Sousa Braga